Imobiliárias pedem prolongamento das moratórias de crédito

O Governo aprovou o alargamento do prazo da suspensão do pagamento dos créditos de famílias e empresas até setembro de 2021. APEMIP diz que é preciso mais.
01 fev 2021 min de leitura
Autor: Idealista - 01 fevereiro 2021, 7:40

O Governo aprovou o prolongamento do prazo das moratórias de crédito às famílias e empresas até setembro de 2021, numa tentativa de manter um balão de oxigénio a todos os que foram e continuam a ser afetados pela crise. Perante o cenário de incerteza que se está a viver, face ao agravamento da pandemia, as imobiliárias já vieram pedir uma nova extensão deste mecanismo, pelo menos, “mais um ano ou até mais tempo”, e alertam que esta decisão deve ser “anunciada o quanto antes, para que os agentes económicos possam avaliar a sua situação”.

De acordo com o Presidente da APEMIP, Luís Lima, o adiamento da perspetiva do regresso à normalidade que veio aumentar ainda mais a incerteza e a instabilidade das empresas e famílias, “faz prever que possa haver um elevado nível de incumprimento assim que terminar este regime, que foi elementar para mitigar o efeito catastrófico da pandemia”. Assim, e perante o cenário atual, o responsável defende que seja “ponderado o prolongamento das moratórias de crédito por, pelo menos, mais um ano ou até mais tempo, como sugeriu o próprio Presidente da República, sob pena de assistirmos a uma verdadeira “bomba atómica” na economia, por via do incumprimento em massa e do crédito malparado”. “Esta é uma decisão que deve ser tomada e anunciada o quanto antes para que os agentes económicos possam avaliar a sua situação”, diz.

Perante as complicações que se preveem, o representante das imobiliárias defende a extensão deste mecanismo “durante o tempo necessário para que se permita uma total recuperação económica”. “Durante este período, poder-se-á encontrar um meio-termo para que pessoas e empresas possam assumir pelo menos o valor dos juros”, afirma.

Relativamente ao setor imobiliário, Luís Lima afirma que, na pior das hipóteses, o fim das moratórias poderá resultar num cenário de incumprimento do pagamento das prestações de crédito à habitação, podendo dar-se o caso de resultar num aumento significativo da oferta imobiliária, motivado por pessoas com urgência e necessidade em realizar liquidez imediata que poderão, perante esta situação, ver-se tentadas a desvalorizar o seu património para acelerar a venda do ativo. “Temos a experiência do que aconteceu na anterior crise, e creio que todos percebemos que há que evitar a todo o custo a repetição do mesmo cenário”, recorda o responsável.

Presidente da APB defende moratórias só para setores mais afetados

Em entrevista ao Jornal Económico, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Ferando Faria de Oliveira, defende que uma nova prorrogação das moratórias deve abranger só clientes dos setores mais afetados “Desde que o enquadramento prudencial e contabilístico o permita, penso que eventuais ajustamentos às medidas em curso deverão ser dirigidos apenas aos devedores cuja atividade continue fortemente condicionada pela crise sanitária e pelas medidas adotadas para a mitigação dos seus impactos”, explicou o responsável.

Para Faria de Oliveira, “os impactos da recessão sobre o setor bancário, nomeadamente o aumento das taxas de incumprimento e deterioração da qualidade dos ativos (i.e., dos créditos sobre clientes), com consequências ao nível dos rácios de NPL, da rentabilidade e da solvabilidade das instituições, ocorrerão e far-se-ão sentir mais visivelmente depois do termo das moratórias concedidas pelos bancos, se as Autoridades não tomarem as medidas adequadas para mitigarem estes efeitos”.

O responsável acredita, por isso, que é fundamental uma “saída o mais “ordenada” possível deste período de apoios excecionais para fazer face à crise Covid”. “Só assim se permitirá que seja dada aos bancos a possibilidade de fazer uma gestão de risco eficaz, já pautada por uma grande proximidade aos clientes e preocupação de não deixar cair empresas com viabilidade económica”, garante o responsável.

Sublinha que as “moratórias concedidas pelo setor bancário português (que são entendidas como ferramentas de prazo limitado para evitar problemas de liquidez e não de solvência, devem ser seletivas, tomando em conta os impactos que os diferentes setores enfrentam)” e que são das “mais generoras” a níve europeu, quer em duração, quer nas condições de acesso.

O presidenta da APB recorda ainda o Relatório de Estabilidade Financeira do BdP (dezembro 2020), que refere que “mais de metade dos particulares que recorreram à moratória não registou qualquer quebra de rendimento, o que, segundo o supervisor, significa que muitos mutuários terão recorrido às moratórias apenas por precaução, já que as condições de acesso assim o permitiam”.

Centeno diz que bancos “aguentam mais um ano” de moratórias

O governador do Banco de Portugal e antigo ministro das Finanças, Mário Centeno, admitiu em entrevista à RTP que o nível de crédito em moratória é elevado, mas que “as empresas também aumentaram as poupanças”, marcando assim “a diferença em relação à crise financeira de 2009”.

“Esta almofada financeira existe, foi criada e está lá para fazer face a eventuais necessidades. As empresas recorreram muito às linhas de crédito do Estado para se financiar, até porque as taxas de juros são bastante baixas, mas grande parte dessas linhas de crédito foram consolidados em depósitos precisamente para fazer face a imprevistos que possam vir a acontecer”, disse o governador do BdP.

Neste momento, garantiu, as moratórias “não causam nenhum problema aos bancos”. “Não causou em 2020 e não vai causar em 2021, de acordo com os dados que tenho”, ou seja, “os bancos aguentam manter mais um ano estas moratórias, tal como elas estão desenhadas até setembro de 2021”. Para o governador


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